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segunda-feira, 28 de março de 2011

O Desconhecido - Capítulo 11








 Capítulo 11
Edward
Quando o sol nasceu eu estava do lado de fora da casa, olhando o mar. Bella estava profundamente adormecida, o coração batendo devagar, no ritmo da respiração suave. Tudo ao meu redor saía lentamente de seu estado letárgico. O barulho das pequenas ondas exercia um efeito calmante sobre minha mente, e eu me esforçava para não ceder à agitação que tomava conta de mim. Havia coisas que eu precisava encarar, mas não precisava ser agora. Agora tudo que eu queria era aproveitar o resto da noite que ia embora, antes de voltar a ser o Edward que eu aprendera a ser ao longo dos anos.


Entrei no mar lentamente, deixando a água envolver meu corpo ao mesmo tempo em que lavava de mim o cheiro de Isabella Cullen. Aquilo me causou alívio e dor ao mesmo tempo. Era um alívio poder respirar de novo sem reservas, sem restrições, sem tanta fome. Mas ao mesmo tempo em que a água carregava seu cheiro com ela, eu já pensava em voltar para a cama e me deitar ao lado dela, e vigiar seu sono, e tocá-la. Era um vício impossível de resistir por muito tempo. Olhei para o passado, em como havia sido no início de nosso relacionamento, em como eu não conseguia passar muito tempo longe dela, longe do pensamento nela. Agora era muito pior.


Mergulhei na água quente e nadei por um longo tempo, ainda me recusando a encarar as coisas que eu precisava encarar. Naquele momento eu não queria pensar em tudo que tinha acontecido. Aquilo ia me destruir lentamente se eu não tomasse cuidado: culpa, remorso, eu não sabia como lidar com esses sentimentos que eram já antigos, mas agora renovados. Porque era ela que estava em jogo ali.


Quando voltei me sentei um pouco na areia, deixando os raios ainda fracos do sol banharem minha pele, eu me via cintilar fracamente, pálido. Não conseguia ouvir um único pensamento humano por perto.


Eu estava completamente sozinho com Bella. E eu...


Balancei a cabeça, deixando as lembranças voltarem mais uma vez à superfície, escolhendo com calma a ordem e a intensidade do retorno.


Eu precisava compreender o que havia acontecido antes de descer ao inferno novamente. Antes que a necessidade irracional de me afastar dela mais uma vez me dominasse e eu fugisse sem olhar para trás. Eu não a merecia. Não merecia aquela entrega, não havia merecido aquela noite. Ela não podia confiar em mim. Nem eu.


Não me lembro exatamente como aconteceu, só me lembro de estar alternando estados de consciência e inconsciência – e essa era a primeira vez que aquilo me acontecia dessa forma. Eu não dormia, não sonhava, mas a experiência física com ela havia aberto para mim novos estados de consciência. Tanto uma consciência mais exacerbada como algo próximo da inconsciência. E foi num desses estados que me aproximei dela mais uma vez enquanto ela dormia, meu corpo queimando de fome e aflição, incapaz de se saciar, com a vontade cada vez maior de tê-la de novo. Eu abracei seu corpo com o meu, ela estava deitada de costas para mim, profundamente adormecida.


O cheiro que vinha dela me queimava lentamente a garganta, o estômago, os olhos, tudo ardia. Entendi naquele momento que enquanto Bella estivesse viva eu sempre teria que conviver com a fome. E que quanto mais tempo eu ficasse com ela daquela forma tão próxima, mais difícil seria de lidar com ela. Eu estivera errado em achar que poderia me acostumar. A fome e o amor andavam de mãos dadas. Eram indissociáveis. Ambos eram parte de mim; eu era instinto, razão, emoção e não podia negar minha essência.


Olhei impotente enquanto me aproximava de seu pescoço macio em câmera lenta, meio hesitante, meio incapaz de parar. Eu a queria com o corpo, com a alma, mas eu queria mais, como uma mariposa eternamente arrastada para a luz, contra sua vontade. Minha boca estava seca, mas o veneno começou a escorrer lentamente das presas, enquanto eu me colava a ela, hipnotizado. Meus olhos perceberam uma artéria pulsando no pescoço, e aproximei meu rosto do local, deitando minha cabeça próxima a seu ombro. Ela se mexeu durante o sono, gemendo. O som não me incomodou nem foi suficiente para me tirar do transe. Eu queria provar seu sangue novamente.


Foi fácil romper a pele do ombro com delicadeza com uma mordida leve, com cuidado, para não contaminar seu organismo. O sangue brotou em pequenas gotas, e eu inspirei profundamente, sentindo o perfume contra o qual eu lutara infinitas vezes me invadindo com a força de um sol. O que eu estava fazendo? Milhões de vozes gritaram dentro de minha mente, mas eu as ignorei, e toquei as gotas com a língua, a princípio gentilmente. Ela se mexeu mais uma vez, e gemeu meu nome. Que sensação ela teria? Mas ela não podia acordar. O que eu estava fazendo? Porque eu tinha concordado com aquilo? Bella despertara tudo aquilo que eu refreava em mim. Tudo.


Com ela eu me tornava completo.


O que aconteceu depois está envolto em uma névoa avermelhada. Não tentei forçar as memórias a voltarem; sei apenas que depois de um tempo bebendo dela vagarosamente eu me vi mais uma vez dentro dela, com as duas coisas acontecendo simultaneamente. O fluxo de sangue cessou, e a ferida mal aparecia em sua pele. Eu não senti a necessidade atroz de continuar como da outra vez, em que havia tomado uma quantidade ainda maior de seu sangue contaminado. Desta vez seu sabor era puro, rico e matizado por todas as mudanças que eu havia causado nela. Nem de longe parecido com o que eu imaginava, porque era infinitamente melhor, mais saboroso, mais intenso... E ela havia me preenchido. Ao mesmo tempo em que eu queimava de raiva por mim mesmo, de angústia, de apreensão... Aquele tinha sido o momento mais belo de toda a minha existência.


O problema não foi exatamente o fato de eu não ter conseguido me controlar o suficiente para evitar o que tinha feito. O problema era que não havia acontecido de verdade. Eu havia sonhado. Só percebi isso quando as coisas voltaram ao foco e eu percebi que sequer havia tocado em Bella enquanto todas essas coisas aconteciam apenas em minha mente. Fiquei horrorizado quando descobri. Não podia distinguir de maneira alguma o que era real do que era imaginário. E se isso tinha acontecido por causa da libertação que havia sido aquela noite, ela jamais poderia se repetir. Eu não podia me permitir. Talvez o desejo de beber seu sangue falasse mais forte e eu acordasse com ela morta em meus braços. E minha vida perderia todo o sentido.


Eu não era confiável.


Deixei os sentimentos me queimarem enquanto o sol subia. Enquanto eu lutava pacientemente contra a raiva e a culpa. No final, venci a batalha, por muito pouco. Resolvi que merecia aquilo. Que tudo tinha dado certo. E que eu não permitiria que ela soubesse. E que eu não me permitiria nunca mais tocá-la daquela forma enquanto não fosse seguro. Enquanto ela fosse tão frágil. Eu nunca mais a colocaria em risco de novo.


Sim, eu podia fazer isso.


O sol estava mais alto. O coração e a respiração de Bella começaram a sair do padrão lento, e a acelerar levemente, o que significava que ela ia acordar em breve. Voltei para a casa, tomei um banho, e me deitei novamente ao lado dela. Tentei evitar olhá-la por enquanto. Isso só tornaria mais difícil sustentar minha decisão. Ela não precisava saber o porque, mas com certeza iria exigir uma resposta que fosse razoavelmente aceitável. Eu percebera mais cedo que ela estava com alguns hematomas, nada muito grave, levando em consideração que havia penas espalhadas por todo o quarto. E eu nem me lembrava de quando tinha destruído os travesseiros. Mas isso precisaria servir. E eu precisaria de toda a minha determinação para não tomá-la de novo. Por quanto tempo eu conseguiria resistir a ela? Não sabia.


A despeito de toda a emoção que sentia, o frio na barriga que me assolou ao pensar que eu em breve precisaria enfrentar sua fúria – justificada – e dos resquícios de culpa, eu não pude impedir um sorriso lento de se instalar em meu rosto. Aquele seria o primeiro dia do resto de minha existência com ela. E ela era Bella, afinal de contas. Eu conseguira tudo o que queria.


E eu sabia que o desconhecido sempre estaria ali,para ser desvendado. E cada dia seria mais um dia de descobertas.


Eternamente.







Fim

 

domingo, 27 de março de 2011

O Desconhecido - Capítulo 10







 Capítulo 10
Bella
Acordei algumas vezes naquela noite, ou seria consegui dormir algumas vezes naquela noite? Os sonhos vinham rapidamente, com o sono ainda leve, sempre com ele, sempre com seu corpo, sempre com as sensações que eu estava descobrindo devagar.


Se eu pudesse ficar vermelha em sonhos, com certeza ficaria, e talvez tivesse ficado na vida real, e talvez ele estivesse vendo, porque nos meus sonhos eu não tinha reservas, e me abandonava em seus braços sem uma gota de timidez. Mas acordei algumas vezes naquela noite, sempre para sentir que nós estávamos novamente em chamas, seu corpo sempre pronto contra o meu, que por sua vez sempre o recebia sem reservas, e igualmente disposto. Eu não me cansava de estar com ele daquela forma, e ele não parecia cansado tampouco. Algumas vezes eu não sabia dizer se era sonho ou realidade, ou ambas as coisas. Sei apenas que parecíamos nos esforçar para matar toda a sede que tínhamos um do outro há tantos meses, como se o amanhecer pudesse trazer algo diferente, uma outra realidade que pudesse negar o que estava acontecendo. A noite conspirava a nosso favor, fazia a magia daquele momento se estender, perdurar. A noite abrigava aquele amor errado e certo, aquele atentado à racionalidade.


A noite nos pertencia.


Em alguns momentos eu percebia tudo nitidamente. Os olhos haviam se acostumado à escuridão, e a lua descera até perto do mar, e entrava pela janela, deixando tudo branco. As velas já haviam se apagado há muito tempo, mas eu não sentia frio; meu corpo estava um pouco entorpecido pelo prazer, incapaz de sentir qualquer outra coisa que não fosse ele, seus lábios, mãos, dedos, pele. Eu mergulhava o olhar no dele, e subíamos mais uma vez aquele caminho em espiral que nos levava até o céu. E quando voltávamos para a terra começávamos tudo de novo.


Em outros momentos as coisas ficavam embaçadas, geralmente quando ele me arrancava do sono com delicadeza, sempre doce, sempre gentil - a princípio. Com o passar dos minutos ele ia se tornando mais selvagem, mais intenso, e eu comecei a ficar à vontade com o predador que ele era, sabendo que eu podia ser sua presa eternamente, voluntariamente, e talvez aquilo o saciasse. E percebi, em um determinado momento, que eu não queria mais me tornar um vampiro; eu queria permanecer exatamente daquele jeito, sendo o calor que ele não podia mais encontrar de outras formas a não ser no sangue, vendo sua expressão transtornada de prazer e alegria.


Não havia vida para mim longe de Edward. Eu aprendera isso na carne, em um tempo que agora parecia distante demais para ter algum significado. O agora era muito diferente. E eu queria prolongar aquilo enquanto eu pudesse. Meu corpo estava cansado, dolorido, eu teria algumas marcas pela manhã, sentira momentos curtos de dor, mas tudo aquilo virava nada quando comparado com o tudo que tínhamos alcançado naquela noite.


Foi com essa certeza e determinação que adormeci, já ouvindo alguns pássaros ao longe, anunciando a chegada iminente do sol. Ainda estava tudo escuro, mas eu podia sentir a mudança no ar, meu corpo estava muito consciente de tudo. Ele despertara, enfim. Antes de adormecer, pude ouvir que Edward sussurrava minha música baixinho, acariciando meus cabelos, e me mandando dormir.
 
 
 

sábado, 26 de março de 2011

O Desconhecido - Capítulo 9






 Capítulo 9

Edward
Quando nós perdemos o controle, tudo fica vermelho. Tudo vira um infinito de instinto e sensações. Frio, calor, fome, sede, barulho, cheiros, raiva, defesa, ataque, fuga. Qualquer coisa que não esteja entre estas coisas vira um emaranhado de borrões indistintos, e nós ficamos temporariamente incapazes de pensar; a ação e a emoção predominam sobre todas as outras coisas. O raciocínio coerente se esvai, dando lugar à fera que espreita o tempo todo por baixo da superfície civilizada, querendo satisfazer suas necessidades, até conseguir satisfazê-las.


Naquela circunstância não foi um sentimento conhecido e comum que me tirou o controle. Foi algo com o qual eu não estava acostumado a lidar, e que vinha tentando negar sistematicamente nos últimos meses, desde que os momentos a sós com Bella tinham se tornado uma constante: o desejo por ela. Desde que eu a conhecera e descobrira que ela correspondia aos meus sentimentos que eu lutava o tempo inteiro contra a vontade de tocá-la, de sentir meus lábios sobre sua pele.


Mas com o passar do tempo, quando eu finalmente aceitara sua presença em minha vida e passara a procurar, aceitar, não temer seu toque, aquilo já não era suficiente para saciar a vontade de tê-la inteiramente. Era sempre com muito esforço que eu me afastava, sempre com uma dor física quase insuportável. Nesses momentos eu tinha medo da reação do meu corpo, que agia de formas inesperadas. Ela sofria muito com aquelas rejeições, mas eu não podia me deixar levar, simplesmente não confiava em mim o suficiente.


Já tinha sido bastante difícil segurar todos os impulsos que haviam me assolado naquela noite, quando eu tomava a maior parte das iniciativas, tentando manter a situação sob controle minimamente, e nisso sua timidez me ajudava. Porém quando ela assumiu o controle eu pude apenas me deixar levar pelo seu toque, e torcer para que eu fosse mesmo merecedor de toda aquela confiança. Não imaginei que ela fosse tão longe; quando começou a me provocar, a me tocar de forma tão entregue, meu corpo reagiu sozinho como sempre, e o pensamento começou a se nublar.


Confesso que tentei resistir um pouco, porém os segundos iam se passando, e a intensidade do toque ia me levando cada vez mais para longe de tudo que não era ela... E todas as proteções de minha mente caíram, todas as precauções, hesitações.


Quando dei por mim estava dentro dela, sentindo seu corpo ao redor do meu, me aceitando, me enchendo de calor em todas as partes, me pressionando. E ouvi o eco de um gemido de dor. Foi apenas por isso que consegui parar, porque meu corpo queria continuar se movendo dentro dela, cada vez mais forte, cada vez mais rápido, até que eu explodisse em sensações, calor e prazer.


Tudo era desconhecido, eu não sabia como aquilo funcionava em meu organismo, só o que eu sabia era que tinha uma vontade não saciada de esquecer o resto do mundo e me afundar na mulher que era minha. Não importava quantas vezes eu ouvira falar sobre aquilo, ou lera nos pensamentos alheios. Nada tinha me preparado para aquela sensação de abandono pleno em meu corpo e em minha mente.


Sem perceber eu havia enfim quebrado a última barreira, e quando compreendi o que havia acontecido a princípio não soube o que fazer. Fiquei estático, imóvel, tentando entender o que havia acontecido, e como, sem conseguir me lembrar. Senti que as preocupações e culpas ameaçavam voltar com toda a força, e lutei contra elas; ela queria, eu queria, e eu sabia que ela queria que eu vivesse aquele momento com a mente e o coração inteiros e não parcialmente, cheios de hesitações.


Empurrei as racionalizações para longe com mais um movimento firme do meu corpo contra o dela, e pela primeira vez pude me deliciar de forma consciente com as sensações que aquele momento me proporcionava.


Era tudo tão novo que não sabia descrever com palavras. Mas era como a maré subindo; onda, fluxo e refluxo, sempre inundado de calor; a cada ir e voltar subindo mais longe, chegando mais perto de algo ainda indefinido, mas sentindo que o algo aumentava a cada retorno, a cada onda, numa espiral crescente de agonia e de prazer. Senti o cheiro sempre avassalador de seu sangue, mas ele não causou em mim o efeito que eu temia. De alguma forma o desejo superava a fome, e eu só conseguia continuar o que estava fazendo, invadindo seu corpo repetidas vezes, como se estivesse marcando minha presença dentro dela, tornando-a realmente minha.


Entrelacei minhas mãos nas dela, segurando-a firme contra a cama, e experimentei mudar um pouco o peso e a forma com que eu me movia; testando os movimentos com cuidado para não machucá-la. Ela se ajustou a mim prontamente, apertando minhas mãos com força.
Eu ainda estava envergonhado pela minha falta de controle, e por ter perdido aquele momento inicial mergulhado em desejo, e prolonguei aquele primeiro reconhecimento dela, ouvindo o ritmo de seu coração, de sua respiração, sentindo as mudanças no seu cheiro, que se misturava com o meu.


Depois de alguns momentos imerso em meus pensamentos e descobertas, procurei seus olhos. E encontrei coisas que nunca havia visto antes. Como se ela tivesse envelhecido, amadurecido apenas naquele contato, naquela invasão. Agora ela era minha mulher, e se sentia assim. O sentimento de pertencer a alguém plenamente a transformara de alguma forma que eu não compreendia, e talvez esse fosse um mistério reservado apenas às mulheres, do qual até então eu nunca fizera parte, e talvez nunca compreendesse plenamente.


Ela gemeu baixo enquanto eu explorava devagar as melhores formas de me encaixar nela, alternando velocidade, força, ritmo, e eu senti uma explosão em meu peito, uma alegria misturada com paixão que beirava a insanidade. Ela era minha, completamente. Era minha companheira, viajava comigo naquela loucura, e estávamos ambos inteiros, até agora. Muito melhor do que eu previra.


Depois de saciar a curiosidade inicial – e eu ficava olhando para ela, prestando atenção em suas reações, e ela ainda conseguia ficar ruborizada – comecei a misturar estímulos, sem me separar dela, com os lábios e as mãos passeando por todo o seu corpo, por todos os pontos sensíveis, e rapidamente os gemidos baixos se tornaram altos, e em alguns momentos gritos de surpresa, quando eu fazia algo de inesperado.


Eu me guiava por seus gemidos e suas respostas, as batidas do coração, o ritmo da respiração, e ia navegando num mar estranho e desconhecido, sem uma direção única a seguir, flutuando ao sabor das ondas, me deixando levar pela maré. Percebi que em alguns momentos ela parecia prestes a dizer alguma coisa, e depois mudava de idéia. Eu ficava mordido de curiosidade, triplamente mortificado por não conseguir acessar seus pensamentos, porém não tinha coragem de quebrar o encanto do momento com perguntas ou palavras. Palavras eram desnecessárias. Meu corpo dizia tudo, e o dela respondia, numa dança lenta, hipnótica, antiga como o mundo.


Aqui ela não era nem um pouco desajeitada; era uma amante habilidosa e natural. Eu percebia isso pela forma com que ela se abandonava ao instinto, sem cálculos, sem complicações, uma vez superada a maior parte da vergonha.


Quando percebia que ela estava excitada demais eu diminuía os movimentos até parar, deixando que ela se controlasse. Os protestos que ela fazia quando eu parava só aumentavam meu desejo de prolongar tudo, sabendo que quando ela atingisse o clímax novamente ele viria com muito mais força. Tentei ajustar o ritmo dela ao meu, conduzindo com paciência seu corpo em chamas, mas era difícil; ela se abandonava com mais ímpeto, e às vezes eu tinha que chamá-la em voz baixa, acalmá-la, trazê-la de volta ao meu ritmo.


- Comigo, Bella, não contra mim. - sussurrei em seu ouvido quando ela se moveu freneticamente contra meu corpo para alcançar a satisfação que eu estava lhe negando.


Ela ofegou e abriu os olhos, mostrando mais uma vez aquela coloração escura que denunciava a extensão de seu desejo. Ela me abraçou com força e retribuí o abraço, ao mesmo tempo em que separava meu corpo do dela, e a virava de costas para mim, de lado, para mais uma vez preenchê-la, e retomar a exploração.


Não sei como consegui prolongar aquilo por tantas vezes; sabia que era uma tortura para ela, bem como para mim, mas o controle vinha fácil nos momentos em que ela beirava o êxtase, e se esvaía nas horas em que eu me aproximava. Nessas horas eu me esquecia quem era, e existia apenas o meu corpo entrando e saindo do dela, seu cheiro, seu hálito, seu sabor, sua pele contra a minha, o calor que dela emanava continuamente, apagando o frio do meu corpo.


Algumas vezes, quando eu voltava desses estados de ausência, tinha que me certificar de que não a havia mordido ou machucado sem perceber, e ela estava sempre inteira, linda, com a expressão transtornada de prazer, os olhos fechados, como se estivesse também em outro mundo secreto, os lábios inchados pelas mordidas que eu lhe dava.


Fui adquirindo confiança, e me deixando levar por mais vezes, permitindo que o caçador que eu era se revelasse. Minha natureza não precisava mais ser negada, eu estava fazendo exatamente o que meu instinto exigia. A expressão “brincar com a comida” passou rapidamente pela minha mente, me provocando um sorriso involuntário. Não deixava de ser uma forma de ver a situação, por menos romântico que fosse. E de certa forma era uma caçada, mas o objetivo final não era alimento e não precisava terminar em morte.

Perdi a noção do tempo e de tudo que fiz enquanto ia aprendendo com ela o que era a satisfação que eu tanto buscara. Só sei que nos deixamos levar pela vontade dos corpos, provando, descobrindo novas formas de encaixe, novas sensações.


Por mais duas vezes eu me aproximei do descontrole, quando cheguei muito próximo do êxtase, e na terceira vez tudo se apagou, quando a onda enfim chegou ao limite mais rápido do que eu previa e quebrou numa nuvem de espasmos do meu corpo sobre o dela, e eu me senti esvaziar, rápido e devagar, pulsando, até que eu não era mais Edward Cullen, eu era apenas um ponto suspenso num mar feito do cheiro e do calor dela. Eu estava vivo novamente. Não havia mais frio, nem poderes sobrenaturais, nem fome de sangue. Eu não era mais o predador, eu apenas existia, simplesmente, e era feito inteiramente de eletricidade.


Eu não sabia como ela estava, se tinha chegado ao mesmo ponto junto comigo, se estava inteira ou em pedaços devido à força de meu abraço, de minhas mãos apertando suas costas, seus braços, mas também não conseguia pensar. Havia apenas o bem-estar. Pela primeira vez desde que me tornara um vampiro eu apaguei tudo. Minha mente não existia. A inconsciência se abateu sobre mim, e se eu tivesse um coração batendo acredito que ele pararia por alguns instantes, enquanto tudo estava suspenso. Depois houve apenas paz.
Voltei um pouco assustado, como quem acorda de um sono leve, as percepções voltando todas ao mesmo tempo, pouca luz, as velas derretidas nos candelabros, algumas já apagadas, o cheiro intoxicante de suor e sexo que vinha de Bella, os barulhos da noite, o calor do ar da ilha, o calor do corpo dela, os lençóis um pouco úmidos embaixo do corpo dela, as pontas dos meus dedos formigando, o pulsar estável de seu coração, a respiração rítmica e tranquila. Ela estava me olhando, serena, os olhos novamente cor de chocolate, com a expressão um pouco cansada. Ela ergueu a mão em um movimento suave e passou pela minha testa, e sorriu levemente. Quando ela falou, sua voz traía a exaustão, mas o sorriso em seu rosto apagava todo o resto.


- E você querendo me negar isso tudo? - Havia brincadeira e provocação na voz, e um pouco de censura.


Abracei-a de leve, colocando seu rosto em meu peito, aninhando o corpo dela junto ao meu.


- Bella... Você sabe que eu não podia ter certeza. Não vamos começar com isso de novo.


- Desculpe, Edward. - Notei o tom constrangido de sua voz e a apertei com mais força - Era uma espécie de brincadeira.


- Eu sei, meu amor. Mas você realmente não devia brincar tanto com essas coisas assim.


Não consegui evitar o escorregar de minha mão por suas costas. Na verdade eu não queria evitar, mas queria dar tempo para ela se recuperar de tantas coisas. Ela se contraiu toda sob meu toque.


- Alguma coisa errada? - Virei seu rosto para mim, procurando um sinal de algo errado. Já estava começando a ficar tenso novamente.


Ela ficou vermelha. Muito vermelha. De novo. Não entendi muito bem o porquê. Ela estava envergonhada do que havíamos feito, ainda? De quantas maneiras ela ainda conseguiria me surpreender?


- Não, nada errado... É que... – O vermelhidão conseguiu se intensificar ainda mais - Você parou e eu ainda não tinha... Você me fez perder o ritmo e eu...


Ela não conseguiu terminar a frase, mordendo o lábio, lindamente envergonhada, os olhos baixos.


- Por isso que você reagiu assim quando eu toquei suas costas?


Eu ia descobrindo como o corpo dela funcionava, maravilhado.


Ela acenou com a cabeça.


Eu fiz com que ela virasse na cama, deixando as costas ao meu alcance. Percebi a tensão dos músculos quando a toquei, mesmo de leve. Um sorriso veio involuntariamente a meus lábios. Então ela ainda estava com milhares de estímulos agindo sobre seu corpo, condensados. Eu não conseguiria dizer, pela calma que emanava dela. Acariciei suas costas com a ponta dos dedos, começando no centro e subindo até a nuca, por sob o cabelo desalinhado.


Agora que eu estava mais controlado, era maravilhoso poder observar as reações instantâneas que meu toque causava nela inteira, cada músculo que se contraía, cada arrepio na pele. Desci com os dedos, tocando-a de leve, despertando novamente seu corpo, e sentindo que o meu respondia da mesma forma.


Fiquei surpreso com a facilidade com que o desejo renascia e tive certeza que eu nunca me cansaria dela. Quando ela estava mais uma vez ardendo, me deitei de costas e puxei seu corpo sobre o meu, me encaixando dentro dela num movimento súbito e inesperado. Minha boca estava sobre a dela, e abafou um gemido alto, ao mesmo tempo em que ela buscava ar. Gostei do acesso que tinha ao seu corpo, e aproveitei o melhor que pude, provocando, tocando, buscando dar a ela a mesma satisfação que eu atingira antes.


Dessa vez não prolonguei os movimentos, atingindo um crescendo rápido e sustentado, sempre guiado por suas respostas às minhas iniciativas. Em um determinado momento, no entanto, não consegui continuar, e parei novamente. Estava curioso. Queria descobrir o que ela queria, seguir o ritmo dela e não o meu. Fiquei imóvel sob seu corpo, e ela gemeu novamente em frustração.


Senti seus punhos se baterem contra meu peito sólido, depois ela me abraçou forte, e começou a se mover contra mim, primeiro de forma hesitante, depois com mais desenvoltura, retomando o ritmo que eu havia desfeito, porém de forma mais errática, irregular, como se obedecesse a algum comando invisível que regulava sua velocidade, seu tempo.


Em meus pensamentos seu ritmo virava uma melodia deliciosa e irreproduzível. Quando senti que ela estava à beira do êxtase, segurei seu corpo mais uma vez, parando seus movimentos. Ela deixou escapar entre os dentes um gemido baixo de protesto, mas antes que ela pudesse reagir eu girei o corpo, imprensando o dela sob o meu mais uma vez, e acelerei o ritmo, sentindo que eu também estava mais perto de explodir novamente do que havia percebido.


Coordenei meus movimentos com os dela, e em poucos segundos estávamos ambos ofegando, eu escutava sua pulsação subindo cada vez mais rápido, e seu corpo se contraindo. Já estava familiarizado com os prenúncios que seu corpo mostrava, e dessa vez não parei mais. Ela gemeu cada vez mais rápido contra meu pescoço, e eu senti, no momento que ela alcançou o ponto mais alto, seu coração perder uma batida. Depois disso ela era pura pulsação ao meu redor, me apertando, e eu quase conseguia sentir a eletricidade correr por seu corpo e chegar ao meu.


Minha própria consciência estava oscilando, e antes que tudo se apagasse mais uma vez – e o prazer dela sempre alimentava o meu duplamente – eu chamei seu nome. Ela abriu os olhos, e pude ver o momento de abandono total que ela atingira, um pouco antes de eu afundar mais uma vez no escuro de seu corpo, e de sua imensidão. 
 
 

quinta-feira, 24 de março de 2011

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O Desconhecido - Capítulo 8





 Capítulo 8

Bella

Meu coração acelerou novamente. A sensação de poder causar nele sensações remotamente parecidas com as que ele me causava era viciante; eu não conseguia pensar em parar. Queria que aquela noite durasse para sempre. Mais uma vez não consegui acreditar que ele estava ali, que era meu, que me amava, e que estava gostando tanto de estar ali como eu. Só que desta vez a descrença era menor, e em parte substituída por uma necessidade de satisfazê-lo; eu conseguia ler em seu rosto e em sua voz como ele estava apreciando tudo aquilo. Era meu dever retribuir tudo que ele me dera.


Mas não era simples; a timidez me atacava em ondas que iam e voltavam. Depois de um tempo, eu só conseguia sentir as ondas de prazer que subiam daquele ponto e se espalhavam para todo o resto do meu corpo. Minhas mãos estavam subitamente soltas, latejando, e me tornei puro instinto. Eu não conseguia acreditar que ele nunca tinha feito aquilo antes. Uma dúvida me atravessou, será que ele tinha mentido para mim? Mas depois relaxei; ele não teria porque, e eu sempre acreditei que ele poderia fazer qualquer coisa melhor do que qualquer humano fosse na primeira vez ou na última. Ele era apenas perfeito demais.


Assustadoramente perfeito.


Quando tudo terminou – e na verdade não tinha terminado, cada pausa era o prenúncio de algo cada vez mais enlouquecedor – a vergonha voltou com mais força e eu tive que me controlar para conseguir olhar para ele. Mas seu olhar desmanchou minha timidez, e consegui conversar de forma minimamente adequada. E agora, aquele desafio. Como eu conseguiria causar nele as mesmas coisas que ele me causara? Eu não tinha coragem nem de longe de fazer o mesmo que ele tinha feito comigo; só de pensar e meu cérebro tinha espasmos.


Além disso, as sensações seriam as mesmas para ele? Ele reagira bastante quando estávamos na água; a verdade é que eu ainda não entendia muito bem como funcionava para mim, quanto mais para um vampiro. Inclusive fiquei durante um tempo tentando imaginar como acontecia, já que ele não estava, bem, tecnicamente, vivo, do jeito convencional. Mas a dúvida se desfez nas últimas horas, quando vi que o corpo dele respondia aos meus estímulos de forma muito conveniente. Algum dia talvez eu tivesse coragem de perguntar. Hoje não.


Fiz então o que me pareceu mais certo: parei de pensar, e fiz apenas o que meu corpo tinha vontade. Voltei a beijá-lo devagar, explorando cada centímetro dos lábios gelados, sentindo que ele estremecia em contato com meu calor. Ao mesmo tempo deslizei a mão por seu corpo; fazendo um caminho parecido com o que ele fizera comigo no chuveiro; nos deitamos lado a lado e enquanto o beijava explorei as costas, o peito, os braços, quadris, ora com as palmas das mãos, ora com a ponta dos dedos. Minhas unhas estavam bem curtas, desejei que estivessem mais compridas, mas depois lembrei que provavelmente ele não sentiria mesmo. Era um dos inconvenientes de ter um namorado vampiro. Mas a sensibilidade dele para outras coisas, principalmente o contato da minha pele, parecia compensar aquela falta.


Me lembrei da primeira vez que nos tocamos mais prolongadamente na clareira, do primeiro beijo que ele me deu, em como ele tinha sido esquivo e reservado; em como tinha se afastado rapidamente do contato, como se eu o queimasse. Agora era parecido, mas ele se permitia queimar, buscava o calor, a intensidade. Eu me sentia nas nuvens.


Me afastei um pouco dele, me sentando próxima a seus pés. Ele permanecia de olhos fechados, a expressão entregue, como se estivesse em outro mundo, do mesmo jeito que eu havia estado; não percebi quando ele abriu os olhos. Em determinado momento olhei para seu rosto – como eu gostava da expressão que ele fazia! – e percebi que estava me encarando, os olhos escuros, a respiração curta e rápida, eu não cansava de me surpreender com suas reações, tão humanas, e ao mesmo tempo diferentes. Notei também em seu olhar expectativa; aquilo me intimidou um pouco, era tudo tão novo, acontecera tão rápido, ontem ele mal me beijava e hoje conhecia meu corpo praticamente todo!


Senti o sangue do corpo todo ir para o rosto, minha mão tremeu, mas respirei fundo e continuei. Me deitei ao lado dele, sem soltá-lo, e voltei a procurar seus lábios com os meus. Percebi que ele estava se controlando para não reagir plenamente, eu já conhecia bem a linha que se formava em seus lábios e a postura tensa. Senti um pouco de medo. Agora eu me sentia realmente brincando com fogo, as recomendações e precauções dele se tornavam mais reais.


Percebi em um determinado momento que meus movimentos estavam sincronizados com sua respiração, e com a intensidade do beijo. Senti meu corpo voltar a responder ao dele e a suas reações, a reacender lentamente, e furiosamente.


O calor de meu corpo contrastava com o frio dele; o calor do ar e de minha respiração pareciam transtorná-lo numa tortura lenta e crescente. Eu podia sentir, mais do que qualquer coisa, a fome que ele sentia, em sua postura, em seu rosto, em seus olhos que se abriam e fechavam como em um delírio de febre. E inesperadamente, num movimento rápido, ele se desvencilhou de minhas mãos, rolou para cima de mim, separando minhas pernas com as dele, e nossos corpos se encaixaram.


Minha reação inicial foi de protesto, de susto, mas ele a sufocou com um aperto selvagem, enquanto deslizava devagar para dentro de mim em um movimento forte do quadril, provocando uma dor aguda onde antes só houvera prazer, misturada com uma sensação completamente nova de ânsia. O protesto de dor foi sufocado também por seus lábios, que morderam os meus, enquanto ele se movia novamente, causando uma segunda onda de dor, essa mais leve, enquanto a ânsia crescia.


Ele percebeu minha agonia, e ficou imóvel, sobre mim, dentro de mim, esperando. A respiração dele estava acelerada de uma forma que eu jamais vira, e agora meu medo era absoluto. E se ele não conseguisse se controlar?


Mas de alguma forma ele conseguiu, e sua respiração foi desacelerando aos poucos, enquanto ele permanecia imóvel. Depois de um tempo que não consegui precisar, ele voltou a se mover,devagar,e uma onda de prazer percorreu meu corpo. E então eu já quase não sentia dor. Foi quando ele ergueu a cabeça para me olhar, e eu desejei que a noite estivesse apenas começando.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O Desconhecido - Capítulo 7




 Capítulo 7


Edward
Eu só estava calmo por fora. Precisava que ela estivesse calma e tranqüila, porque eu não estava. Havíamos chegado a um ponto meio que sem volta, não havia mais muito a fazer, talvez pudesse esperar mais um pouco, prepará-la melhor, mas eu não acreditava nisso, eu via em seus olhos que ela queria aquilo tanto quanto eu, mais, até. Tudo estava indo bem, bem demais, mas o esforço maior viria agora.


Deitei-me sobre ela, para sentir seu corpo todo colado no meu, e a abracei. Mergulhei o rosto em seu pescoço, em seu cabelo, e senti a fome familiar chegando novamente, subindo por minha garganta. Ao invés de parar, dei pequenas mordidas em seu pescoço, como se estivesse me preparando para mordê-la, e ela praticamente saiu de si com aquilo. Acalmei os pensamentos. Tinha que estar preparado para o pior, se eu a mordesse de verdade teria que tentar novamente tirar o veneno de seu organismo, ou prepará-la para a transformação. Tudo estava mais ou menos ajustado para qualquer possibilidade.


Mas ao invés de aumentar minha fome, as mordidas, que não chegavam sequer a arranhar sua pele, a acalmaram. Seria o instinto do caçador sendo aplacado? De repente resolvi fazer um último teste, uma idéia me atingiu. Vinda do medo, talvez. Ou talvez fosse apenas mais curiosidade, mais vontade de tê-la completamente. Ela estava suada, corada, um tormento por toda a parte.


- Calma, amor.


E colei os lábios em seu pescoço, inspirando profundamente, sentido a pulsação do sangue em suas artérias, me inebriando com seu cheiro doce, tentador, provando o suor da pele, que lembrava de uma maneira milhares de vezes mais fraca o gosto de seu sangue.


Me deixei levar pela experiência sensorial. Senti mais uma vez a boca cheia de veneno, estava pronto para devorá-la, para bebê-la até o fim, mas a vontade não era mais tão incontrolável como antes. Era como se não fosse a primeira vez, e sim uma redescoberta de algo que ficara muito tempo longe de mim.


Ouvi um suspiro abafado no momento em que todo o seu corpo se contraiu, e depois relaxou. O cheiro dela se tornou ainda mais intenso, beijei-a para fugir da onda doce e fulminante que me alcançou. Me apoiei um pouco nos braços para observá-la com curiosidade, e por um momento fiquei feliz por ela ter insistido tanto em ter essa experiência antes da transformação. Ela estava me dando um presente único, de sentir o corpo dela tão vivo, em uma experiência tão unicamente humana. Fiquei feliz também em ter aceitado. Amanhã, caso algo desse errado, eu poderia voltar a sentir culpa, responsabilidade, irritação comigo mesmo por ser tão inconseqüente, mas naquele momento tudo que existia era o calor que emanava dela, o cheiro intenso, a fome sob controle, e o prazer que dávamos um ao outro.


Deitei-me ao seu lado, enquanto a observava, atento. Os olhos fechados, a respiração entrecortada, o suor formando minúsculas gotas em sua testa, ela estava a cada segundo ainda mais fascinante. A resistência que eu já tinha contra transformá-la em uma de nós aumentou. Tanta coisa seria perdida! Ela não tinha consciência da própria perfeição.


- Bella? - Arrisquei chamá-la depois de um tempo; um sussurro.


Queria ver seus olhos. Ela virou o rosto para mim e os abriu. Geralmente de um marrom suave, seus olhos estavam escuros e fluidos, como ônix líquido; quase não consegui distinguir as pupilas novamente dilatadas das íris escuras. Seu olhar transbordava de amor, satisfação, surpresa e um pouco de timidez, tudo misturado numa composição única. Sorri imensamente, devolvendo todos os sentimentos que ela deixava transparecer... Segurei sua mão.


- Está viva ainda? - Perguntei brincando. Ela espreguiçou os braços como se fosse uma gata.


- Parece que você decidiu me deixar viver mais alguns instantes.


Seus lábios formaram um sorriso satisfeito.


- Ainda quer que eu continue? - Provoquei, chegando próximo a ela e mordendo de leve o lóbulo da orelha. Ela pulou novamente, mas a resposta me surpreendeu.


- Não, preciso de um tempo para me recuperar. Ainda tem champanhe?


Dei uma risada espontânea e estendi o braço para a taça e a bebida que ainda estava fria no balde de gelo. Enchi a taça, e entreguei em sua mão ainda trêmula. Antes que bebesse, procurei seus lábios, tocando sua língua com a minha.


Ela bebeu a taça inteira de uma só vez, continuava com sede. Ofereci água na mesma quantidade, ela aceitou de bom grado. Depois se recostou novamente nos travesseiros, e acariciei sua testa, tirando as mechas de cabelo que estavam grudadas com suor.


Ela me olhou com um olhar indecifrável. Parecia querer poder ler a minha mente desta vez. Retribuí o olhar com a mesma intensidade. Estávamos sem palavras.


- Foi uma idéia que tive na última hora. Achei que, se me acostumasse com o seu cheiro, poderia ser mais fácil. Eu ainda tenho medo, Bella. Não temos garantias.


Ela olhou para o teto por alguns instantes, depois ficou muito vermelha; me olhou de canto de olho e eu sorri, não consegui evitar.


- Edward... Não posso reclamar, apesar de ter ficado... - Ela ficou mais vermelha ainda. - Foi uma das sensações mais absurdamente maravilhosas que eu já senti. Se o resto é ainda melhor... Eu não sei se vou agüentar.


Ela parecia sincera. Mas eu sabia que era tudo uma questão de perspectiva. Era estranho estarmos conversando sobre isso; as palavras não eram suficientes para descrever as coisas, e era um pouco desajeitado. Nós nunca tínhamos conversado sobre esse assunto abertamente. Era normal que ela ficasse insegura. A falta de experiência ajudava. Tentei ser o mais sincero possível, baseado em tudo que sabia.


- Até onde sei, vai ser diferente. Mas não posso dizer como, cada um tem um corpo, uma forma de sentir.


Ela sorriu.


- Eu te amo. - A voz era linda - Obrigada por ter decidido vir para cá comigo.


- Não agradeça ainda. Ainda não acabou. - E minha voz se tornou novamente maliciosa - E por falar nisso, eu não aproveitei tanto quanto você. O que vai fazer para consertar isso?


O sorriso voltou a seus lábios.

- Bem... - ela respondeu, os olhos brilhando - Acho que aprendi uma ou duas coisas nas últimas horas. Vamos ver o que consigo fazer por você.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O Desconhecido - Capítulo 6



 Capítulo 6


Edward
Era incrível como Bella sempre me surpreendia. Além de não ter a menor certeza da importância que tinha em minha vida, conseguia fazer com que o amor que eu sentia por ela aumentasse cada vez mais, com gestos simples, com palavras inesperadas. Sempre que eu achava impossível que meu coração comportasse mais coisas, ela aparecia com alguma surpresa que me pegava desprevenido.
Foi assim naquele momento em que ela confessou o que estava pensando de forma tão pouco calculada, embora ela sempre fosse mesmo muito transparente. Eu estava me preparando para algo diferente, por causa da reação inesperada que ela tivera durante o beijo, e ela terminou por me dar a opção que eu sempre quis que ela me desse: a de não passar pelo tormento de estar com ela e terminar por feri-la no processo.


Não foi uma decisão fácil de tomar. Ter algo muito precioso nas mãos e decidir correr o risco de perdê-lo, podendo aguardar um pouco para poder desfrutar dele de forma mais segura, mais completa... Que tolo faria isso a não ser alguém muito apaixonado... como eu?


Mas agora que ela verbalizara seus pensamentos, as coisas se tornavam mais claras, e justificavam melhor o risco. Ela era humana. Queria essa experiência. Queria me dar essa experiência. Que eu tivesse como retirar dela tudo o que podia me dar, antes de mudar para sempre.


Aos poucos o pânico foi se dissolvendo da minha mente, e a vontade que sentia por ela aumentou, apagando o resto das minhas dúvidas temporariamente. Aquilo aumentou também minha confiança no meu controle. Talvez se eu me entregasse ao que sentia ao invés de lutar contra; se conseguisse canalizar a força de meu desejo ao invés de combatê-la...


E assim, ao invés de desistir, de confessar que não confiava mais no meu autocontrole, eu a trouxe para a casa em meus braços, tentando não segurá-la muito perto para que não sentisse frio. Enquanto carregava seu corpo leve, continuava a devorá-la com os olhos. A espera havia demorado muito, e agora eu me permitiria desfrutar do que nos fora negado por tantos meses. Intimidade absoluta.


Levei-a direto para o banheiro, mantendo as luzes apagadas. Eu não precisava de luzes, enxergava muito bem no escuro. Deixei-a em pé em frente ao chuveiro e sorri, mesmo sem saber se ela conseguia ver. Abri uma das torneiras e deixei a água quente, o máximo que poderia estar sem que ela se queimasse, e beijei sua testa de leve.


- Bella, amor. Se esquente um pouco, eu já volto. Você deve estar gelada a essa altura.


- Um pouco. - ela concordou, enquanto deslizava com cuidado para dentro do chuveiro.


Senti que ela relaxava ao contato da água quente, e lutei contra a vontade de me juntar a ela naquele mesmo momento. Tinha ainda algumas coisas a preparar.




Voltei ao banheiro poucos minutos depois. Ela estava encostada na parede, que era de granito, deixando a água quente escorrer pelas suas costas. Parecia bem, grande parte da tensão dissolvida pelo calor e pressão da água, que era bem forte. O ambiente se enchera de vapor, criando uma névoa densa, e ali o cheiro dela ficava um pouco mais leve, quando misturado a tanta água no ar.


- Você tem alguma idéia de como é irresistível? - Eu perguntei, enquanto entrava no chuveiro, e me colocava entre ela e o jato de água, esquentando também meu corpo.


Ela se virou, e ergueu a cabeça ao olhar para mim. Busquei seus lábios com os meus com gentileza, testando seu humor. Era sempre imprevisível para mim. Ela me beijou de volta devagar, tocando meus lábios com a ponta da língua, fazendo caminhos, sem pressa.


Eu amava essa nova faceta dela, que estava sendo despertada aos poucos, essa confiança, essa falta de timidez. Ela estava deixando a adolescência cada vez mais rápido. E nunca me pareceu mesmo uma adolescente;


Bella sempre fora mais madura do que as outras garotas de sua idade. Isso compensava o excesso de timidez e insegurança que eram típicos dela. Eu amava sua seriedade, seu senso de responsabilidade, de conseqüência, a forma como se preocupava com sua família e com o bem-estar de todos, principalmente comigo, que tanto a fizera sofrer. Amava até mesmo seu silêncio, quando estávamos na escola, enquanto todos riam, brincavam e faziam barulho. Aquilo a aproximava de mim.


Aproveitei que o beijo a estava deixando sem ar e parei um pouco. Olhei em volta; o lugar onde ficava o chuveiro era enorme, as paredes eram todas de granito claro, ao lado tinha um pequeno jardim de inverno com folhagens e um banco de pedra. Levei o que trouxera na mão até lá, puxando-a pela cintura, sem desligar o chuveiro, o vapor funcionava como uma sauna, esquentando o ambiente.


Senti um cheiro leve de suor, que vinha dela e melhorava ainda mais seu perfume, deixando-a ainda mais viva, mais saborosa. Sentei no banco de pedra e coloquei uma toalha que molhara com água quente em meu colo, para diminuir o choque de temperatura. Fiz com que ela se sentasse sobre minhas pernas de costas para mim. Afastei os cabelos molhados, empurrando-os para a frente, deixando a visão plena de suas costas nuas. Comecei a deslizar as mãos pelas costas molhadas, sentindo os músculos se contraindo a cada toque. Eu queria que ela relaxasse, mas estava surtindo o efeito contrário.


Me inclinei para a frente, até que estivesse perto de sua orelha.


- Bella. – sussurrei - Relaxe, não vamos ter pressa.


- Não quero relaxar. - ela resmungou, com um toque de diversão em sua voz. - Na verdade meu corpo é quem não quer, eu não consigo evitar.


Agora eu ouvi o sorriso em sua voz, junto ao suspiro lento. Era melhor assim. A tempestade de suas emoções aparentemente estava se dissolvendo.


-Vamos resolver isso. Parece que Alice tinha algumas sugestões a nos dar, encontrei algumas delas espalhadas pela casa.


-Ah, não! - ela respondeu, um pouco constrangida. -Aqui também?


- Como assim também? - Provoquei.


Imaginei que minha irmã teria reservado algumas surpresas para o guarda-roupa de Bella, mas não quis tocar no assunto, pois sabia o quanto aquilo a deixava envergonhada.


- Hum. Nada, você sabe como é a Alice. Sempre dando muitas sugestões.


- Concordo. Mas devo admitir que gostei delas, dessa vez. Quase tanto quanto gostei do seu vestido de noiva.


- Ah.


Ela não conseguiu encontrar mais nada para dizer. Devia estar terrivelmente vermelha. Confesso que para mim também era estranho estar com ela daquela forma, mas estava encantado com as descobertas.


Tantos anos ouvindo comentários e piadas internas de Jasper e Emmet; finalmente eu podia entender algumas coisas por mim mesmo, sem precisar ficar sondando os pensamentos alheios, ou recebendo informações da vida íntima deles mesmo quando eu não queria.


E também... Era a primeira vez que eu amava tanto alguém assim. Queria que tudo fosse perfeito. E como ela nunca tinha feito isso com ninguém antes... Eu sabia o quão desconfortável poderia ser para ela se eu não tomasse cuidado.


- Seus olhos estão fechados? - Perguntei a ela.


- Sim. - Ela repondeu, um pouco desconfiada.


- Então eu quero que você relaxe. E eu quero conhecer seu corpo. Se – se você me prometer que não vai se descontrolar. Promete?


- Não.


- Essa é a minha Isabella. Eu gosto do seu nome assim. Bella é lindo, mas Isabella é mais clássico. Combina com você. Posso começar?


- Aham.


Senti que o corpo dela estava tenso de novo, em antecipação. Dei uma risada rouca. De repente fiquei novamente muito consciente do corpo dela junto ao meu, sentada em meu colo... Seria muito fácil apenas afastar a toalha, me mover para junto dela, dentro dela. Mas não queria que fosse assim. Afastei os pensamentos em outra direção, e passei de novo as mãos pelas costas nuas, só que agora para espalhar um líquido que Alice deixara em um frasco no armário do banheiro. A substância era oleosa, com um perfume bastante agradável, e segundo a nota que ela deixara vinha de plantas e flores que cresciam na ilha. Ela deixou escapar um gemido.


- Não sabia que você também entendia dessas coisas. - ela comentou, com a voz baixa e entrecortada.


- Com você eu sempre tento ser muito humano, você sabe. Além disso, Carlisle é médico, ele me ensinou algumas coisas. E assisto filmes de vez em quando.


- Que tipo de filmes você anda assistindo, hein? - ela perguntou, enquanto meus dedos iam encontrando pontos de tensão nos músculos e desfazendo devagar, com cuidado. Qualquer força a mais que eu usasse poderia machucá-la. Ela não sabia que isso também era um exercício para que eu soubesse até onde poderia ir.


- Você se surpreenderia. - respondi, provocando.


- Edward! Você não andou assistindo...


Ela não conseguiu terminar a frase, e não consegui conter as risadas. Depois que terminei de explorar suas costas, passei para os braços, me demorando na parte interna, onde a pele era mais sensível. Senti que a respiração dela e o coração iam se acelerando. Quando isso acontecia, eu parava. Ela se manteve o quanto pôde dentro da promessa de relaxar, mas eu sabia que estava ficado cada vez mais difícil. Eu ia saboreando suas reações, encantado; o óleo e o vapor camuflavam seu cheiro, tornando fácil a parte de me controlar; fiz uma nota mental para agradecer a Alice depois.


Quando terminei com os braços desci para as pernas, ela permanecia sentada em meu colo, então mudei de posição e a coloquei deitada de costas no banco, sobre a toalha, e me ajoelhei ao lado dela enquanto deslizava as mãos pelas pernas de cima a baixo até os pés, memorizando cada detalhe, cada imperfeição, cada dedo, a textura da pele, a firmeza dos músculos, as curvas, a delicadeza, a fragilidade dela sob minhas mãos. Percebi que algumas vezes a toquei com muita força, ela não reclamava, mas eu percebia; aos poucos fui aprendendo o que tinha que fazer, a pressão que podia usar, a forma que ela mais apreciava. O Leão e o cordeiro. Mas dessa vez era o próprio cordeiro quem se sacrificava. Se bem que, eu tinha que admitir, ela estava gostando bastante. Não parecia um grande sacrifício...


Por enquanto.


Evitei outras áreas propositadamente, antes que o controle nos fugisse. A noite ainda era uma criança, e aparentemente a satisfação que ela alcançara enquanto estávamos na praia havia diminuído um pouco sua urgência. Quando me dei por satisfeito, ergui-a novamente, e a levei até o chuveiro, para que retirasse o excesso do óleo. Ao ver a expressão de prazer em seu rosto não consegui me conter, colei meu corpo no seu, sentindo a pele dela deslizar contra a minha, e a beijei até ficarmos ambos sem fôlego nenhum, enquanto as mãos delas deslizavam por mim já com certa desinibição; sem fôlego era modo de dizer, já que eu não respirava, mas meu peito queimava, e a boca ardia de desejo, seca. Quando falei, as palavras saíram com dificuldade, entrecortadas.


- Bella... assim... nós vamos... acabar pulando as etapas.


- Etapas?


Foi só o que ela conseguiu balbuciar, enquanto colocava a mão no peito, como se estivesse sem ar depois de correr por muitos metros.


- Você vai gostar. Vai ficar quietinha?


- Ei! Eu não fiz nada dessa vez! Você me agarrou! - Ela protestou, e estava certa. Eu é que havia me adiantado.


- É verdade. Vamos, então?


Envolvi Bella com a toalha úmida, retirando o excesso de água da pele e dos cabelos, e a carreguei mais uma vez, até o quarto. Em meus pensamentos, torcia para que tudo desse certo até o final.